Cinco Recomendações para Obter Excelência na Aquisição de Imagens Pediátricas
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Estratégias para aprimorar o desempenho em instituições de saúde de todos os portes.
Por Dra. Lori Lee Barr, pesquisadora do American College of Radiology (ACR) e do American Institute of Ultrasound in Medicine (AIUM), Radiology Associates of Florida, uma clínica afiliada à Radiology Partners.
Se você trabalha com radiologia em uma instituição de saúde comunitária, a demanda pela aquisição de imagens pediátricas poderá ser baixa. Consequentemente, sua equipe terá menos experiência nesta especialidade.
Sou a Dra. Lori Barr e atuo como radiologista pediátrica na Radiology Associates of Florida. Uma de minhas paixões é aprimorar o desempenho e a interpretação da aquisição de imagens pediátricas. A seguir, compartilho cinco recomendações para ajudar a radiologia a obter excelência na aquisição de imagens pediátricas em centros de atendimento de todos os tamanhos. Com planejamento antecipado e ênfase na aprendizagem, sua instituição pode realizar exames de imagem com o mesmo padrão de atendimento de um hospital infantil de grande porte. Confira a lista de recursos que sugiro no final desta publicação.
As consequências de considerar “crianças como pequenos adultos”
Nós que atuamos na área da radiologia, seguimos à risca o princípio de reduzir a dose de radiação “ao nível mais baixo possível” (ALARA). O equilíbrio entre a dose e a qualidade da imagem é ainda mais importante na aquisição de imagens pediátricas. As crianças não são apenas mais sensíveis à radiação do que os adultos (o risco de desenvolver câncer por dose unitária de radiação ionizante é mais elevado), como também têm uma expectativa de vida mais longa, fazendo com que elas estejam mais sujeitas a desenvolver câncer após a exposição à radiação.(1) Para corroborar o princípio ALARA e proporcionar ótimos resultados aos pacientes, é fundamental que você e sua equipe conheçam o equipamento que utilizam e sigam protocolos validados. Por exemplo, embora múltiplas fases de um exame de CT (tomografia computadorizada) com contraste sejam comuns em adultos, sua necessidade é muito menos frequente em crianças.
Além disso, a formação profissional e a experiência prática ensinam a todos nós lições que não seguem metodologias convencionais. Costuma-se pensar que as técnicas de aquisição de imagens que funcionam para adultos de porte pequeno são apropriadas para crianças, sobretudo se você não realiza a aquisição de imagens pediátricas com frequência.
Em geral, podem ocorrer duas situações quando um técnico de aquisição de imagens ou ultrassonografista que raramente realiza exames diagnósticos pediátricos precisa fazê-lo. Por um lado, ele pode realizar o exame com base em seu conhecimento, sem qualquer tipo de apoio, mesmo que se sinta estressado, receoso e desconforável. Se as imagens resultantes não forem adequadas, a criança talvez precise retornar para realizar outro exame, aumentando potencialmente sua exposição à radiação.
Por outro lado, o técnico de aquisição de imagens ou ultrassonografista poderá se recusar a realizar o exame e a criança deverá procurar outra instituição ou clínica. Nenhuma das situações é favorável para o paciente.
Recomendação 1: revise seu equipamento de aquisição de imagens
Quando seu carro está com problemas, você obtém melhores resultados levando-o ao posto de combustível ou a um mecânico que possui o software de diagnóstico e o equipamento apropriados para o ano, a marca e o modelo específicos de seu veículo?
O mesmo raciocínio se aplica à aquisição de imagens pediátricas. Se seu equipamento não for adequado para a aquisição de imagens pediátricas, sua equipe deverá pensar duas vezes antes de realizar o exame. Trata-se de uma decisão importante e inequívoca. Por exemplo, se for solicitada uma CT (tomografia computadorizada) de uma criança – um exame facilmente realizado sem sedação em um scanner da geração atual –, mas você contar apenas com um scanner de primeira geração mais antigo e mais lento que, além de não atender aos padrões vigentes de exposição à dose de radiação, exigiria sedação da criança, então sua instituição deverá considerar seriamente não prestar esse atendimento pediátrico.
Aliás, se sua instituição possuir apenas equipamentos de radiografia convencionais e não puder oferecer o benefício da redução da exposição por meio do posicionamento PA padrão e de sistemas de aquisição de imagens digitais, recusar a realização de um exame diagnóstico de escoliose visará ao bem-estar da criança. Você pode acessar o Image Gently, um ótimo recurso para determinar se seu equipamento é apropriado para a aquisição de imagens pediátricas e o que é possível fazer para otimizá-lo, assegurando a exposição à radiação mínima em crianças.
Se você não souber quais são ou não dispuser de recomendações específicas de utilização pediátrica referentes ao seu equipamento de aquisição de imagens, solicite-as ao fabricante e peça a ele para apresentá-lo aos radiologistas e técnicos que utilizam o mesmo equipamento em um hospital infantil. Ainda que seu equipamento não seja mais coberto pela garantia, trata-se de uma solicitação razoável. A maioria dos fabricantes terá satisfação em atendê-lo. Os físicos médicos são outro recurso excelente. Tenha em mente que os protocolos de um sistema de aquisição de imagens nem sempre são replicáveis em outro sistema com design, configuração e versão de software idênticos.
Recomendação 2: utilize protocolos pediátricos existentes desenvolvidos por especialistas
Economize tempo e aprimore seu desempenho profissional ao adotar protocolos de práticas pediátricas recomendadas que foram validados por especialistas. Há diversos recursos disponíveis para treinamento e suporte relativos à aquisição de imagens pediátricas. No final desta publicação, há links de protocolos de especialistas que atuam em hospitais infantis e centros comunitários. Confira a seguir alguns links bastante úteis, independentemente do local onde a aquisição de imagens pediátricas é realizada.
A Austin Radiological Association é uma clínica de radiologia de referência que atende a uma série de hospitais e possui diversas clínicas ambulatoriais de aquisição de imagens no centro do Texas (transparência total: fui sócia da ARA). No site, eles disponibilizam gratuitamente protocolos ambulatoriais e hospitalares para crianças e adultos, permitindo que qualquer técnico encontre as diretrizes de que precisa para realizar um ótimo exame de seus pacientes.
A ingestão de corpos estranhos na pediatria é uma situação comum que exige a aquisição de imagens no pronto-socorro mais próximo. A North American Society For Pediatric Gastroenterology, Hepatology & Nutrition elaborou uma diretriz robusta, que é atualizada continuamente, para a aquisição de imagens, a geração de relatórios e o tratamento de corpos estranhos que tenham sido ingeridos. Este é um exemplo de uma iniciativa de consenso em que especialistas criam diretrizes e protocolos de práticas recomendadas.
Tanto a Austin Radiological Association quanto a Radiology Associates of Florida, onde atuo no momento, integram a Radiology Partners, que é a maior clínica de radiologia do mundo. Em âmbito nacional, também priorizamos práticas recomendadas para reduzir a realização de aquisições de imagens desnecessárias e a exposição à radiação em adultos e crianças.
Recentemente, adotamos um protocolo de desempenho de ultrassom de apêndice pediátrico, uma planilha para os ultrassonografistas e um modelo de relatório para os radiologistas a fim de coibir a utilização de CT (tomografia computadorizada) para esse diagnóstico em todo o país. Após testarmos o programa localmente, nós o disponibilizamos dentro e fora de nossa clínica nacional. Você pode se inscrever no curso gratuito sob demanda intitulado Pediatric Appendix Ultrasound Standardized Performance and Reporting Training (Treinamento sobre desempenho e relatório padronizados para ultrassom de apêndice pediátrico). O curso oferece duas horas de crédito de educação médica continuada (Continuing Medical Education, CME) e é recomendado para ultrassonografistas, estudantes de medicina, residentes, enfermeiros, assistentes médicos e médicos que utilizam ultrassom no local de atendimento (Point-of-Care Ultrasound, POCUS), bem como para radiologistas.
Nosso objetivo é a ampla adoção nacional do protocolo para coibir a realização de CTs (tomografias computadorizadas) desnecessárias e reduzir o tempo de internação hospitalar de crianças que sentem dor abdominal. Nossos resultados mais recentes serão apresentados no formato de um pôster científico no RSNA 2023, o encontro anual da Radiological Society of North America.
Esses são apenas alguns recursos que podem ajudar você a aprimorar seus protocolos de aquisição de imagens pediátricas em todas as modalidades. Não se esqueça de que recursos locais, nacionais e internacionais estão ao seu alcance on-line. Basta pesquisar. Reserve um tempo todos os meses para se manter a par das diretrizes atuais.
Recomendação 3: incentive e monitore a aprendizagem
Dispondo do equipamento e dos protocolos apropriados para crianças, incentive e monitore a aprendizagem em sua equipe. Faça a si mesmo estas três perguntas:
- Os técnicos e ultrassonografistas estão familiarizados com os parâmetros da prática do American College of Radiology que se aplicam a crianças?
- Você fornece feedback oportuno quando um exame é bem realizado e quando há espaço para melhorias?
- Seu processo atual de garantia de qualidade e de segurança é eficaz ao reduzir as doses de exposição, a repetição dos exames e a necessidade de retornar à sua instituição?
Criar um ambiente no qual os recursos educacionais estejam disponíveis com a mesma facilidade de um telefone celular pode aprimorar o atendimento ao paciente caso os períodos de inatividade sejam aproveitados como breves oportunidades de formação educacional, em vez de navegar nas redes sociais ou ler um romance fora do intervalo durante o horário de trabalho. Um recurso útil para obter informações sobre a aquisição de imagens pediátricas é a página de recursos educacionais da Society for Pediatric Radiology. A inscrição é gratuita e há links para diversos recursos que oferecem oportunidades de aprendizagem baseadas em casos, com duração de até cinco minutos.
Você deve estar se perguntando: “como faço para aprimorar minhas habilidades se não tenho muitos pacientes pediátricos?”. Essa é uma dúvida frequente em relação à ultrassonografia do piloro e do apêndice em crianças. Se você realiza ultrassonografias abdominais em adultos diariamente, esta é a oportunidade ideal para praticar a aquisição de imagens do piloro e do apêndice. O código CPT, que se refere a ultrassom abdominal completo, inclui o intestino e é perfeitamente aceitável para incorporar visualizações do piloro, da válvula ileocecal e do apêndice – as regiões do intestino onde a doença provavelmente se manifestará, em qualquer idade –, como parte de seu protocolo de digitalização de rotina.
Recomendação 4: aproveite o suporte dos colegas
Incentive seus técnicos em radiologia e ultrassonografistas a estabelecer relacionamentos com os colegas para que tenham a quem recorrer quando precisarem de orientação ou suporte. Escolha uma associação de acordo com sua profissão ou com base em um órgão ou uma modalidade específica de aquisição de imagens. A maioria dos grupos possui fóruns de perguntas e respostas. Além disso, considere quem são os membros que integram tais grupos para encontrá-los entre seus colegas. Por exemplo, sou membro da Society of Chiefs of Radiology at Children’s Hospitals (SCORCH). Eles têm uma lista por meio da qual os membros podem publicar uma pergunta para o grupo todo, enviando-a para o endereço de e-mail fornecido. O feedback de um grupo como esse é especialmente útil quando sua instituição amplia a oferta de serviços que presta ou adquire novos equipamentos.
As comunidades a seguir oferecem recursos semelhantes aos membros: American College of Radiology (ACR), Radiological Society of North America (RSNA), Association of Registered Diagnostic Medical Sonographers (ARDMS), American Society of Radiologic Technologists (ASRT) e Society of Radiology Physician Extenders (SRPE).
Recomendação 5: deixe seus pacientes pediátricos à vontade
Fazer com que uma criança se sinta à vontade é, talvez, a estratégia mais importante para capturar as melhores imagens possíveis e colocar o princípio ALARA em prática. Para tanto, considere duas dicas: em primeiro lugar, controle sua ansiedade. Quando você está nervoso, a criança e os pais percebem.
Em segundo lugar, utilize métodos de distração que prenderão a atenção da criança durante o processo de aquisição de imagens. Em nossas salas de ultrassom, um dos melhores métodos de distração com o qual contamos é um dispositivo que projeta luzes no teto. Meu favorito, e que acalma muito as crianças (e os adultos), projeta ondas do mar verdes e azuis no teto, combinando com a decoração temática de fundo do mar de nossa sala. Através da internet, você pode encontrar dispositivos como esse que projetam padrões aleatórios de luz e um céu estrelado ou constelações, a um custo médio de USD 20 a USD 40. O espetáculo de luzes do teto mantém crianças de todas as idades entretidas por um período considerável.
Celulares e tablets com jogos, desenhos animados ou filmes condizentes com a faixa etária também são boas ferramentas. Por último, faça questão de conversar. Quando você reserva um tempo para conversar e escutar os pacientes e seus pais, eles se sentem mais seguros, pois sabem que contam com sua atenção plena. E esse é o presente mais valioso que você pode compartilhar com qualquer pessoa.
Conclusão
Agora que você sabe que há diversos recursos à disposição, basta dar o próximo passo. Embora seu hospital comunitário talvez não disponha dos equipamentos e recursos especializados de uma instituição infantil de grande porte, o único obstáculo à ambientação de um espaço pediátrico propício e à realização de aquisição de imagens pediátricas excelentes é sua criatividade. Espero que você e sua equipe considerem minhas recomendações úteis.
Lembre-se de que basta uma ideia para mudar a própria realidade!
Recursos:
- Enfrentando os Desafios da Aquisicao de Imagens Pediatricas
- Image Gently
- Peer Learning Real Time: National Shared Learnings From Pediatrics
- Society for Pediatric Radiology
- ACR Appropriateness Guidelines
- ACR Practice Parameters
- Cleveland Clinic Children’s Hospital Pediatric Radiology Digital Teaching File Archive
- Austin Radiological Association Protocols
- Pediatric Appendix Ultrasound Standardized Performance and Reporting Training
Sobre a autora
A Dra. Lori Lee Barr, pesquisadora do American College of Radiology (ACR) e do American Institute of Ultrasound in Medicine (AIUM) é sócia, membro eletiva do Conselho de prática local, presidente do Comitê de segurança dos pacientes e diretora da divisão Panhandle da Radiology Associates of Florida, subsidiária da Radiology Partners, Inc. Ela também é presidente de aquisição de imagens médicas no Ascension Sacred Heart Hospital Pensacola e no Studer Family Children’s Hospital, em Pensacola, na Florida. É professora clínica do Departamento de Ciências Clínicas da Flórida State University College of Medicine-Pensacola. Possui, ainda, Certificado de qualificação adicional em radiologia pediátrica. Quando não está atendendo pacientes, ela adora praticar snorkel e mergulho. Siga a Dra. Lori no LinkedIn e ouça seu podcast, The Doctor’s Mentor Show, no iTunes ou no aplicativo de sua preferência.
Referência: